sábado, 29 de junho de 2013

Para entender a voz das ruas


História #26 - Vem pra rua II | SP


E um vídeo sensacional, produzido pelo grupo "Imagina na Copa" - com depoimentos de Natália Garcia, Leonardo Sakamoto e Dênis Russo Burgierman.
Segundo Dênis, estamos assistindo a um colapso, não só do ponto de vista político, mas de tudo: um desmoronamento do sistema como um todo, que vai desde o significado do trabalho à forma como vivemos e consumimos.
A lógica desse sistema está ruindo e já faz tempo.
O que mudou foi que estressamos o limite do que acreditávamos ser possível e isso não tem volta, como ele mesmo pontua.
Em algum momento, nós deixamos de nos pautar pelas imposições, pelo que era dado e encontramos caminhos diferentes.
Estamos "hackeando" o sistema.



Os 7 dias que abalaram o Brasil

E-book elaborado por Augusto de franco, através de uma compilação dos seus artigos Artigos publicados no Facebook, de 16 a 29 de junho de 2013. Domínio Público. Versão Beta (sem revisão).
Recomendo visualização em tela cheia, clicando no botão que aparece no canto inferior direito da imagem (conforme modelo abaixo).



OS 7 DIAS QUE ABALARAM O BRASIL from Augusto de Franco

O download gratuito pode ser feito também via Escola-de-Redes aqui.


Abaixo artigo na integra de um dos principais estudiosos sobre os movimentos sociais que estão emergindo pelo mundo, publicado em 29.jun.13 no Jornal La Vanguardia de Barcelona sobre os movimentos do Brasil.


BRASIL: ESCUTAR ÀS RUAS

Manuel Castells 


Estava andando por São Paulo e Porto Alegre, falando de meu livro sobre os indignados do mundo, quando surgiu o movimento que sacudiu o Brasil. Espontâneo como todos os demais, sem líderes como todos os demais, surpreendendo a políticos e analistas como todos os demais. Originado na internet e tomando as ruas em mais de 90 cidades para fazer-se valer. A faixa que abria a manifestação no Rio de Janeiro dizia "Somos a rede social". Ao que acrescentava outro manifestante "Saímos do Facebook e agora estamos na rua". "Vem, vamos pra rua; Pode vir que a festa é sua", cantavam as pessoas se apropriando de uma canção publicitária relativa à Copa das Confederações. Quem iria pensar que os brasileiros protestariam a organização da Copa do Mundo de Futebol porque, como dizia outra faixa em Belo Horizonte, "Já temos estádios de primeiro mundo, agora nos falta um país"? No lugar deste desperdício, que consideram manchado de corrupção, querem investimento público em transporte, educação e saúde. O movimento, iniciado em São Paulo contra o aumento das tarifas de transporte, respondeu a um chamado criado no Facebook do Movimento Passe Livre.

Em seu manifesto se autodefinem como "um movimento social autônomo, horizontal e apartidário, que jamais pretendeu representar o conjunto de manifestantes que tomaram as ruas do país". Após terem conseguido a revogação do aumento das tarifas, continuam reivindicando a "Tarifa Zero", ou seja, a gratuidade do transporte público, porque "a mobilidade é um direito universal". E de fato o caos urbano se deve a uma urbanização que segue as pautas da especulação imobiliária, a atividade mais destrutiva, característica de um modelo insustentável de crescimento econômico e territorial. Depois se somaram demandas diversas, dirigidas à gratuidade e qualidade de educação e saúde, assim como um clamor contra a corrupção nas administrações e uma crítica do modelo político que as ruas não reconhecem como democrático. 75% dos brasileiros apoiam o movimento. O partido do Governo, o PT de Lula, defensor da esquerda latinoamericana, sofreu um choque emocional. Alguns de seus líderes, como o governador de Brasília ou o ministro do Interior, utilizaram de imediato mão duríssima contra os protestos, empregando fogo real em alguns casos, com o resultado de vários mortos (estatística em curso), centenas de feridos e milhares de detidos. Até que a presidente Dilma Rousseff, em um gesto sem precedente na curta história dos movimentos de indignados pelo mundo, declarou que "tinha a obrigação de ouvir a voz das ruas". Fez gala de cintura política e também de um certo poço de convicção de quem foi torturada e encarcerada pela ditadura. É uma mulher de esquerda, que tem tentado controlar a corrupção que corroe seu partido e seu governo. Ofereceu diálogo, recebeu algumas pessoas do movimento e prometeu investir em melhorias no transporte, saúde e educação. Também reprimindo àqueles ministros e dirigentes que consideraram inicialmente o movimento como um tema de ordem pública e ordenaram vigiar as redes sociais. E aceitou a crise de representatividade dos partidos e a necessidade de sua reforma, propondo uma assembleia constituínte para mudar a Constituição e submeter a plebiscito popular uma reforma do sistema político, tentando assim superar as travas que os políticos têm colocado sempre no Congresso a qualquer tentativa de limitar seus privilégios. Como é lógico, políticos de todas as tendências, em particular do opositor PSDB, se pronunciaram contra o plebiscito. De modo que nem a anulação do aumento que provocou a indignação, nem as promessas da presidente, enfrentadas pela classe política, apaziguaram o movimento, senão que o reforçaram. E ampliaram suas demandas, que agora incluem a desmilitarização da polícia e os direitos dos povos indígenas, submetidos à pressão de grandes empresas depredadoras da Amazônia.

Ninguém o esperava no Brasil e ninguém entende esse movimento, o qual parece incrível depois de três anos em que movimentos similares têm surgido em todo o mundo. É que esse sistema político atual, nem no Brasil nem em nenhuma parte, têm a capacidade de assimilar o que de verdade está acontecendo: que os cidadãos se expressem politicamente de forma autônoma sem passar pelos partidos. E a esquerda o entende ainda menos que os outros. Inclusive órgãos de imprensa esquerdista na américa latina acusam o movimento de ser uma conspiração imperialista contra um governo de esquerdas. Claro que existem manifestantes de direita nas ruas do Brasil, e inclusive alguns grupos violentos e extremistas. Mas é que os movimentos autônomos não são de esquerda ou direita, expressam ao conjunto da sociedade, em sua pluralidade ideológica, e cada qual trata de aproveitar a conjuntura. Apesar disso, a imensa maioria são jovens sem outra afiliação além de seu desejo de viver a vida, em lugar de lutar por cada gesto cotidiano. São jovens que não dividem o entusiasmo pelo crescimento econômico do Brasil porque não vivem de estatísticas. "Não são uns centavos, são nossos direitos", diziam as ruas de São Paulo. O emaranhado de comentaristas e acadêmicos que interpretam o movimento segundo sua ideologia não conseguem aceitar a realidade do que não entra em suas categorias. Por isso a vontade de reforma política e de políticas sociais da presidente têm surpreendido e alarmado a classe política, a exceção de Marina Silva, a popúlar líder ecologista, ex-ministra de Lula, candidata presidencial, que se colocou a serviço do movimento com sua Rede Sustentável. Se abre assim uma luta interna pelo sistema político entre quem quer reconciliar-se com a sociedade e quem nem sabe o que contesta.

Desde o Brasil chegam duas mensagens. Para os indignados: a mudança é possível incrementando a pressão das ruas, em quantidade e em qualidade. Para os políticos: quanto antes aceitarem a obsolescência de uma democracia esclerótica, mais fácil será a transição a novas formas de representação que conectem os cidadãos com as instituições.




Texto original em espanhol aqui.


2 comentários:

  1. Assistimos ao filme. Depois leio os textos. Valeu!

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  2. Todas as manifestações trouxeram bons resultados. E para colaborar seria bom que tivessem o mesmo empenho sobre o preço dos combustíveis. Esse item pode atender a muitos consumidores e seriam de impacto nacional. E é fácil fazer uma manifestação velada. É só espalhar pelas redes sociais para que ninguém durante o mês de julho abasteça nos Postos de Gasolina da Bandeira BR. E no mês de agosto os da Bandeira SHELL. E assim por diante, atingindo a cada mês uma distribuidora. E provavelmente eles temeram pelos prejuízos acumulados e repensarão na redução dos preço. Aproveitem e espalhem pela rede os preços dos combustíveis dos países produtores, por exemplo: Venezuela, Estados Unidos, Iraque, etc... (tem um protesto rolando na internet) Temos que ter orgulho de ser brasileiro.

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