quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

"Os Sexalescentes"

Recebi este artigo sem indicação de autor, e, pesquisando na internet, descobri que o mesmo fora enviado por Eduardo Ribeiro, escritor e estudioso da vida de Camões em Macau, a Deana Barroqueiro, de Lisboa,  que o publicou em seu blog em 29/10/2011.

Fala com muita propriedade sobre o surgimento do grupo social dos “novos adolescentes” sexagenários.
Lembrou-me de uma palestra do Roberto Shinyashiki que assisti há mais de 15 anos, onde o escritor afirmava que o aumento da expectativa de vida traria consigo o fenômeno da “segunda adolescência”, com pessoas  financeiramente estabilizadas, muitas aposentadas,  e com saúde e tempo livre para “curtir a vida”...

Pessoalmente conheço várias que poderiam ser enquadradas neste perfil...
Publico-o com a grafia original.



Os Sexalescentes

Se estivermos atentos, podemos notar que está a aparecer uma nova franja social: a das pessoas que andam à volta dos sessenta anos de idade, os sexalescentes: é a geração que rejeita a palavra "sexagenário", porque simplesmente não está nos seus planos deixar-se envelhecer.

Trata-se de uma verdadeira novidade demográfica - parecida com a que, em meados do século XX, se deu com a consciência da idade da adolescência, que deu identidade a uma massa de jovens oprimidos em corpos desenvolvidos, que até então não sabiam onde meter-se nem como vestir-se.

Este novo grupo humano que hoje ronda os sessenta teve uma vida razoavelmente satisfatória. São homens e mulheres independentes que trabalham há muitos anos e que conseguiram mudar o significado tétrico que tantos autores deram durante décadas ao conceito de trabalho. Que procuraram e encontraram há muito a actividade de que mais
gostavam e que com ela ganharam a vida. Talvez seja por isso que se sentem
realizados...

Alguns nem sonham em reformar-se. E os que já se reformaram gozam plenamente cada dia sem medo do ócio ou da solidão, crescem por dentro quer num, quer na outra.
Disfrutam a situação, porque depois de anos de trabalho, criação dos filhos,
preocupações, falhanços e sucessos, sabe bem olhar para o mar sem pensar em mais nada, ou seguir o voo de um pássaro da janela de um 5.º andar...
Neste universo de pessoas saudáveis, curiosas e activas, a mulher tem um papel
destacado. Traz décadas de experiência de fazer a sua vontade, quando as suas mães só podiam obedecer, e de ocupar lugares na sociedade que as suas mães nem tinham sonhado ocupar.
Esta mulher sexalescente sobreviveu à bebedeira de poder que lhe deu o feminismo dos anos 60. Naqueles momentos da sua juventude em que eram tantas as mudanças, parou e reflectiu sobre o que na realidade queria.
Algumas optaram por viver sozinhas, outras fizeram carreiras que sempre tinham sido exclusivamente para homens, outras escolheram ter filhos, outras não, foram jornalistas, atletas, juízas, médicas, diplomatas... Mas cada uma fez o que quis: reconheçamos que não foi fácil, e no entanto continuam a fazê-lo todos os dias.

Algumas coisas podem dar-se por adquiridas. Por exemplo, não são pessoas que estejam paradas no tempo: a geração dos "sessenta", homens e mulheres, lida com o computador como se o tivesse feito toda a vida. Escrevem aos filhos que estão longe (e vêem-se), e até se esquecem do velho telefone para contactar os amigos mandam e-mails com as suas notícias, ideias e vivências. De uma maneira geral estão satisfeitos com o seu estado civil e quando não estão, não se conformam e procuram mudá-lo. Raramente se desfazem em prantos sentimentais.

Ao contrário dos jovens, os sexalescentes conhecem e pesam todos os riscos. Ninguém se põe a chorar quando perde: apenas reflete, toma nota, e parte para outra...
Os maiores partilham a devoção pela juventude e as suas formas superlativas, quase insolentes de beleza ; mas não se sentem em retirada. Competem de outra forma, cultivam o seu próprio estilo...
Os homens não invejam a aparência das jovens estrelas do desporto, ou dos que ostentam um fato Armani, nem as mulheres sonham em ter as formas perfeitas de um modelo. Em vez disso, conhecem a importância de um olhar cúmplice, de uma frase inteligente ou de um sorriso iluminado pela experiência.

Hoje, as pessoas na década dos sessenta, como tem sido seu costume ao longo da sua vida, estão a estrear uma idade que não tem nome. Antes seriam velhos e agora já não o são. Hoje estão de boa saúde, física e mental, recordam a juventude mas sem nostalgias parvas, porque a juventude ela própria também está cheia de nostalgias e de problemas. Celebram o sol em cada manhã e sorriem para si próprios...
Talvez por alguma secreta razão que só sabem e saberão os que chegam aos 60 no século XXI ...

Um comentário:

  1. Concordo em parte!Ainda temos muito a fazer!Aqueles que tiveram acessos aos bons empregos estão vivendo muito bem a sua sonhada aposentadoria,mais temos muito a fazer,filas e mais filas esperando consultas e exames.Um país que fazem estatutos entre eles para respeitar idosos já dar para perceber sendo que a nossa Constituição já tem o respeito as pessoas.

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